Decorrerá nos dias 2, 3 e 4 de novembro de 2018, na Fundação Lapa do Lobo, o congresso “De Gibraltar aos Pirenéus: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular”, que tornará públicos os resultados obtidos durante as 4 campanhas de escavação (2015-2018), no sítio arqueológico da Orca da Lapa do Lobo.
A quarta campanha de escavação realizou-se durante o passado mês de julho. Este projeto plurianual que foi impulsionado pela autarquia de Nelas, terá continuidade com a musealização não só da Orca da Lapa do Lobo, que já se iniciou, mas também dos outros 3 dólmens do concelho. A Orca das Pramelas em Canas de Senhorim, a Orca do Folhadal e a Orca do Pinhal dos Ameais em Senhorim irão, até ao final do ano, como previsto inicialmente ser alvo de ações de limpeza e embelezamento com colocação de sinalização de forma a serem visitados. O Serviço de Património da Autarquia pretende criar um roteiro de megalitismo que irá reforçar a oferta deste tipo de turismo a nível regional.
A intervenção realizou-se no âmbito do Projeto NeoMega dirigido pelo Prof. Doutor João Carlos de Senna-Martinez (Uniarq), também diretor da escavação, com colaboração da Mestre Telma Ribeiro e da Dra. Margarida Carvalho. Dela participaram alunos de Mestrado em Arqueologia das Universidades de Lisboa e Coimbra e da Licenciatura em Arqueologia das Universidades de Lisboa e Évora.
Tal como as antecedentes, a presente campanha contou com o apoio logístico da Câmara Municipal de Nelas, Fundação Lapa do Lobo, Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Canas de Senhorim e Juntas de Freguesia de Canas de Senhorim e Lapa do Lobo.
O sítio revela uma longa diacronia de utilização a que o topónimo Cruz Alta associa uma memória popular de longa duração tal como a própria lenda da Lapa do Lobo:
1- A ocupação do local começa com a instalação de um habitat de cabanas elipsoidais (quatro escavadas mais uma estrutura de suporte de um “silo”) atribuído ao Neolítico Antigo.
2- Num momento provavelmente do Neolítico Médio, é construído um monumento megalítico (a Orca) que ao termo da presente campanha parece ter tido uma pequena câmara poligonal sem corredor. À utilização deste espaço funerário podem corresponder dois geométricos sobre lâmina de sílex recuperados este ano.
3- Num terceiro momento, o que inicialmente terá sido um monumento funerário foi transformado num “santuário”. A câmara foi desmantelada e os esteios arrumados de encontro à respetiva cabeceira, a mamoa alteada com terras por três vezes, correspondendo a cada uma delas a estruturação de uma fossa preenchida com “conjuntos pétreos” que acomodavam estelas e seixos idoliformes. Na fase intermédia a fossa central foi complementada com outras duas menores com igual função. E na fase superior com mais uma idêntica.
Deste conjunto de estruturas e correspondendo a esta terceira fase de utilização, provêm cerca de 60 estelas e três dezenas de “seixos idoliformes”. À superfície da mamoa e já em 2015, foi recolhida 1 estela-menhir. Este conjunto de elementos de cariz simbólico configura desde já uma situação ímpar no território nacional.
Procedeu-se ainda durante a campanha deste ano à reposição da volumetria original da mamoa (muito afetada por antigas remoções de terra) e preparação da musealização do conjunto de três das estruturas do Neolítico Antigo exteriores ao monumento.