No seguimento da implementação do Circuito Pré-Histórico do Concelho de Nelas e para reforçar o estudo cientifico nessa área, está a decorrer até 12 de Julho a quinta campanha de escavação no sítio arqueológico da Orca da Lapa do Lobo. A intervenção realiza-se no âmbito do Projecto NeoMega 2 dirigido pelo Prof. Doutor João Carlos de Senna-Martinez (Uniarq – também director da escavação). Dela participam alunos de Mestrado em Arqueologia das Universidades de Lisboa e Coimbra e da Escola Profissional de Arqueologia.
Tal como as antecedentes, a presente campanha conta com o apoio logístico da Câmara Municipal de Nelas, Fundação Lapa do Lobo, Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Canas de Senhorim e Juntas de Freguesia de Canas de Senhorim e Lapa do Lobo
O sítio revela uma longa diacronia de utilização a que o topónimo Cruz Alta associa uma memória popular de longa duração tal como a própria lenda da Lapa do Lobo.
Os resultados obtidos nas campanhas anteriores – apresentados e já publicados no âmbito do Congresso “De Gibraltar aos Pirenéus: Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular”, realizado entre 2 a 4 de Novembro de 2018 na Fundação Lapa do Lobo (Concelho de Nelas), numa co-organização entre esta Fundação, o Centro de Arqueologia (Uniarq) da Universidade de Lisboa e o Centro de Estudos de Arqueologia, Arte e Ciências do Património da Universidade do Algarve, com colaboração das Câmara Municipal Nelas e Câmara Municipal de Carregal do Sal – permitem já contar a seguinte história do sítio:
- Algures durante o início do Neolítico, o ponto mais alto da área onde se implanta o sítio veria o estabelecimento de uma pequena aldeia cabanas elipsoidais (quatro escavadas mais uma estrutura de suporte de um “silo”). Com gentes vivendo já então no típico ciclo sazonal regional, invernando nas terras baixas e usando as pastagens de primavera / verão na Serra da Estrela.
- Com o reforço de uma atitude mais territorial, no Neolítico Médio, a construção de um pequeno dólmen deu início ao processo de legitimação do povoado vizinho. Seria o túmulo dos ancestrais da primeira linhagem local?
- A situação mais complexa que se desenvolveu com o início do Neolítico Final levou ao estabelecimento no planalto dos Fiais/Ameal de uma necrópole de grandes dólmens com vários locais de habitat entre eles. O sítio da Orca da Lapa do Lobo seria então transformado numa espécie de “santuário de antepassados”. Qual axis mundi organizador da vida simbólica das comunidades no seu entorno.
- O local foi abandonado no final do Neolítico. Já na Idade Média, o nome do local foi mudado para “Cruz Alta”, recuperando para a órbita cristã um antigo “lugar de memória”.
Da fase identificada acima no ponto três provém um impressionante conjunto de elementos (mais de 150) de cariz simbólico incluindo uma estela-menhir, estelas e seixos idoliformes. Este conjunto de elementos ideotécnicos configura desde já uma situação ímpar no território nacional.
A presente campanha tem como objectivos finalizar a escavação da área central do monumento com vista à sua posterior musealização, integrando o conjunto habitat e santuário, sendo os resultados desta campanha apresentados no final dos trabalhos de escavação.
Porque Nelas Vive o Património!